Evento reúne artistas de diferentes povos, promove vivências e destaca a presença indígena no Distrito Federal.
Cantos, memórias e encontros definem o Festival de Música Indígena Bôsénimi, que começou na última terça-feira, no Espaço Cultural Infinu e na Casa Bahsakewií, no Noroeste, em Brasília, e segue até amanhã, com apresentações, vivências e reflexões sobre a presença indígena na capital federal. A entrada é gratuita para ambos os espaços.
A programação de hoje e amanhã reúne nomes como Tainara Takuá (Guarani), Morena e Dzubuyê (Pataxó e Kariú-Kariri) e Owera (Guarani). Já no domingo, último dia do evento, se apresentam artistas como Idowú Akinruli (Yorubá) e o Grupo Moyrá (Kariri-Xocó).
Idealizado por Irémirí Luvan Sampaio, 33, do povo Yepá-mahsã (Tukano), o festival busca mostrar ao público um universo musical ainda pouco conhecido, marcado por ritmos, espiritualidades e tradições transmitidas por diferentes povos.
Irémirí explica que o festival nasceu da necessidade de dar visibilidade aos indígenas que vivem no Distrito Federal. “Muitas pessoas não sabem que existem comunidades e famílias indígenas em Brasília. O Festival Bôsénimi visa valorizar as culturas, as memórias e as espiritualidades dos povos, além de apresentar cantores de diferentes tradições culturais, inclusive aqueles que moram no DF”, conta.
A curadoria do evento foi construída para apresentar ao público uma variedade de ritmos e sonoridades. Segundo Irémirí, a escolha dos artistas também buscou trazer “músicas instrumentais e cantos transmitidos pelos antepassados, que continuam vivos e praticados até hoje”. A programação acontece no Espaço Infinu, na 506 Sul, e reúne nomes de várias regiões do país.
Ontem, quem realizou uma apresentação impecável foi a cantora, fotógrafa, produtora cultural e compositora Ramona Jucá, 26, do povo Potiguara Ibirapi. Poetisa e artista da palavra, Ramona define sua atuação como um entrelaçar de canto, poesia e ritmo “como instrumentos de cura e resistência”. No festival, ela apresenta o projeto “Borboletas e Marimbondos”, que mistura coco e rap em músicas autorais que revelam sua ancestralidade e sua vivência como mulher indígena periférica.
Em cena, Ramona divide o palco com artistas das periferias do Distrito Federal, formando uma rede de criação coletiva. Para ela, o Festival Bôsénimi cumpre um papel essencial. “Vem pra trazer força, gerar renda e impulsionar artistas indígenas contemporâneos, reunindo lideranças e juventudes para pensar a resistência originária das aldeias e das periferias que ocupam a capital do Brasil”, define.
O nome do festival, Bôsénimi, vem da língua Yepá-Mahsã e significa “encontro entre os povos, grande celebração, união”. A proposta, diz o organizador, é reunir parentes indígenas e não indígenas em um mesmo espaço, criando pontes por meio da música.
Além dos shows, o festival promoveu uma vivência na reserva indígena do Noroeste, onde Álvaro Tukano ministrou uma palestra sobre saúde espiritual e cuidados alimentares. O encontro, segundo Irémirí, foi um momento de troca entre diferentes povos e de reflexão sobre a sobrevivência dos cantos e das línguas diante das pressões do mundo moderno.
Serviço
Festival de música indígena Bôsénimi A partir desta terça-feira (25/11) e até domingo (30/11), no Espaço Cultural Infinu e na casa Bahsakewií. Entrada gratuita e classificação indicativa livre.




