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Produção midiática indígena se consolida como instrumento de conscientização

Em entrevista para

Os alunos do Ciep São Vicente de Paula e Y Juca Pirama tiveram um encontro com cineastas indígenas fundadores do coletivo Mídia Indígena, que produz e divulga conteúdos voltados para a preservação e valorização dos povos originários.

Além do diálogo, os participantes assistiram ao filme Somos Guardiões, produzido pelo próprio coletivo Mídia Indígena, que retrata a luta pela defesa do território e da Amazônia.

O documentário, que conta com a produção do ator Leonardo DiCaprio, investiga os interesses econômicos que fomentam o desmatamento na Amazônia e suas consequências ambientais e humanas. A produção acompanha a líder e ativista indígena Puyr Tembé e o guardião florestal Marçal Guajajara em sua batalha para proteger territórios indígenas.

A iniciativa que reuniu os estudantes e os produtores indígenas é uma parceria entre o projeto de extensão Metaversidade da UFRJ e o Consulado da Suécia no Rio de Janeiro.

Erisvan Guajajara, fundador do coletivo Mídia Indígena  Tânia Rêgo/Agência Brasil

Erisvan Guajajara é um dos fundadores da Mídia Indígena do território Arariboia, da Aldeia Lagoa Quieta, no Maranhão. E seu primo, Edivan Guajajara, é um dos diretores do filme.

O jornalista explicou que o coletivo visita universidades e escolas para destacar o protagonismo dos povos indígenas na defesa de seus territórios.

“A gente usa essa ferramenta para mostrar o nosso protagonismo, contar a nossa história como realmente deve ser contada e mostrar a versão dos povos indígenas com o olhar indígena”

Ocupação de espaços
Ele acrescentou que a comunicação é uma ferramenta de luta e pode ajudar a desconstruir preconceitos.

“Estamos ocupando as redes, demarcando as telas, que significa trazer para a visibilidade a realidade dos povos indígenas, desconstruindo estereótipos que muitos ainda alimentam”.

Entre os estereótipos equivocados, ele citou a ideia de que “indígena é preguiçoso, não trabalha e só vive no mato”.

“A gente traz esse debate para as universidades para que os alunos cresçam e aprendam que hoje nós temos indígenas jornalistas, advogados, prefeitos, vereadores, ministra e deputados federais”

A estudante Grace Kelly, de 16 anos, uma das participantes da exibição, destacou a importância de conhecer outras culturas.

“Aprender mais sobre a realidade deles, o que eles estão passando é importante para que as pessoas que têm uma visão negativa sobre eles possam ter uma visão de mais igualdade”.

Juan Santos, de 17 anos, admitiu que não conhecia profundamente os povos indígenas e considerou a atividade importante para “conhecer realidades e entender a importância de preservar as tradições”.

A diretora do Ciep São Vicente de Paula, Natália Menezes, avaliou que o contato dos estudantes com a mídia produzida por indígenas possui um duplo benefício: a educação ambiental, com uma “visão da natureza não só como recurso, mas como algo a ser preservado”, e a oportunidade de conhecer a realidade dos povos originários.

“A gente fica muito preso ao que é dito só nas mídias, e eles não escutam esse lado dos indígenas. Então é dar voz de fala a esses povos indígenas e que os estudantes possam conhecer essa realidade para também lutar a favor dela”, salientou.

Novos horizontes
Para a diretora, outros benefícios da atividade incluem a mudança de rotina e o contato com o ambiente universitário.

“Eles estão encantados, primeiro por sair da realidade de Nova Iguaçu, conhecer outras realidades em termos de espaço”, observou.

“É ideal que a gente possa, já no ensino médio, começar a estreitar esses laços que eles podem ter com a universidade, porque, para muitos, é algo que não é palpável, é algo muito distante. Então é bom estreitar esses laços com a universidade para que eles possam compreender que eles podem ocupar também esses espaços”, afirmou a professora.

Os dois colégios participantes integram o projeto Escolas Interculturais Brasil-Suécia, da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, que promove o intercâmbio de conhecimento entre os países.

Antes da exibição do filme, os alunos acompanharam uma apresentação do Consulado-Geral da Suécia no Rio de Janeiro sobre os Sami, povo originário da região norte dos países nórdicos, também conhecida como Lapônia.

“Não sabia que existiam. Vinte graus negativos, surreal”, surpreendeu-se Grace.

“É importante os jovens aprenderem que o mundo é grande, entender outros países, culturas, histórias”, disse o cônsul-geral honorário da Suécia no Rio de Janeiro, Jan Lomholdt.

Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-08/midia-produzida-por-indigenas-se-torna-ferramenta-de-conscientizacao

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