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Exposição “Vozes da Floresta” abre programação visual da Casa Maraká

Mostra reúne 24 obras de fotógrafos indígenas e destaca memória, território e ancestralidade na Galeria Tuiré Kayapó.

A Casa Maraká inaugurou na tarde desta quinta-feira, às 17h, a exposição “Vozes da Floresta”, na Galeria Tuiré Kayapó, abrindo sua programação visual durante a COP30. A mostra apresenta 24 obras produzidas por oito fotógrafos indígenas e de comunidades locais da Amazônia Legal e de países vizinhos.

Sob curadoria da comunicadora indígena cineasta e coordenadora do Mídia Indúegna Priscila Tapajowara, Participam da exposição Luene Karipuna, Duber Arboleda, Eliana Muchachasoy, Joyce Anika, Kawowe Parakaçnã, Andrés Cardona, Elo Virkima e Patrick Murayari Wesember.

Segundo Priscila, o processo curatorial partiu do convite a fotógrafos indígenas e de comunidades locais, valorizando a relação íntima com rios, florestas e lugares que compõem suas identidades. “A fotografia e a arte, ela é uma ferramenta, não só de entretenimento, mas sim uma ferramenta de luta, uma ferramenta de sensibilizar as pessoas e de mostrar a nossa conexão com esses lugares, mas também a nossa luta para defender esses lugares e também a nossa a nossa cultura e além de mostrar a diversidade cultural dos povos da Amazônia”, pontua.

Ela reforça que a escolha da Galeria Tuiré Kayapó como espaço de abertura não é apenas simbólica. É uma homenagem à liderança do povo Kayapó, referência para mulheres e povos originários na defesa de seus territórios. “Então é mostrar essa diversidade, essa riqueza, essa força ancestral que nós carregamos e levamos para todos os lugares que quando a gente vai. Então a gente tá aqui demarcando com a Casa Maracaí com a galeria que tem o nome de Tuíri e Kayapó e em homenagem à grande liderança do povo Kayapó, no qual nos inspira muito, não só como mulheres, mas quanto povos indígenas”, complementa.

Entre as fotógrafas presentes, está a de Luene Karipuna, 27, coordenadora executiva da Apoiamp, que apresenta três obras que retratam práticas comunitárias, memória e autonomia em seu território. “Eu tenho três fotografias muito importantes. Uma delas é a foto da soltura dos filhotes de tracajá, parte do projeto “amigo do tracajá”. Esse projeto foi pensado nos anos 2000, quando criamos o nosso Plano de Vida dos povos indígenas do Oiapoque, o primeiro a ser construído no Brasil”, conta.

Outra fotografia de Luene registra o trajeto pelo rio. “Outra fotografia é do rio, feita quando estávamos a caminho da gravação do primeiro filme da UACEM, uma loja que criamos também a partir do Plano de Vida. Com a expansão da necessidade de recursos externos ao território, pensamos: como gerar renda para o nosso povo? A solução veio do manejo do açaí e da criação de uma loja. A ideia já existia pelos nossos mais velhos, mas nós apenas a colocamos em prática. Hoje temos uma estrutura para bater o açaí que vem do território. A gente não desmata, não planta, apenas cuida do que já existe na natureza”, enfatiza.

A terceira obra apresentada por Luene é uma homenagem ao Museu dos Povos Indígenas de Oiapoque, reinaugurado após dez anos fechado. Para ela, o registro é também um ato de memória coletiva, por se tratar de um dos primeiros museus indígenas construídos dentro de um território indígena no país. “A terceira fotografia está muito conectada ao Museu dos Povos Indígenas de Oiapoque. Nós o reinauguramos depois de 10 anos fechado; é um dos primeiros museus indígenas construídos dentro de um território indígena. Essas são as três fotos que trago, e, com elas, as histórias e a memória do nosso território”, conta.

Priscila reforça que a exposição é um convite para que visitantes, turistas e moradores de Belém se aproximem da cosmovisão indígena. “É importante que todos venham entender e ver de perto essa conexão dos povos com a floresta e com a Amazônia, e que possam contribuir, de alguma forma, com essa luta”, finaliza.

Foto: Alle Kamuntsy

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