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A comunicação e as artes desempenham um papel fundamental na resistência dos povos indígenas

O terceiro ciclo de debates do projeto Amazoniar, com o tema “Cultura e arte dos povos indígenas como forma de resistência”, encerrou-se na quinta-feira (21/10). No último encontro, o comunicador Erisvan Guajajara e a artista plástica Daiara Tukano reforçaram um ponto também levantado por outros convidados, como Denilson Baniwa e Daniel Munduruku: o indígena não é uma figura do passado. Na verdade, as comunidades estão utilizando diversas tecnologias para narrar a história sob sua própria perspectiva e amplificar suas mensagens.

A Mídia Indígena é um exemplo dessa realidade. Criado em 2017, o coletivo de jovens comunicadores indígenas surgiu com o objetivo de dar visibilidade aos povos tradicionais em sua luta e resistência por direitos. “Estamos usando ferramentas de comunicação a que não tínhamos acesso antigamente e as usamos para denunciar, registrar e dizer ao mundo que ainda precisa conhecer a verdadeira história do povo indígena. Buscamos dar visibilidade ao indígena do século 21: o indígena jornalista, professor, médico, deputado”, explicou Guajajara, um dos fundadores do coletivo.

Presente em todas as plataformas digitais, a iniciativa conta atualmente com 200 colaboradores de diversos povos e tem sido crucial para unir e mobilizar indígenas. “Temos que fortalecer essa união e nossos modos de defesa com campanhas, vídeos e produção de conteúdo para mostrar o que vem acontecendo nas bases. A luta dos nossos povos não garante só a vida dos povos indígenas, mas do planeta e da humanidade”, destacou.

Tukano recordou como a comunicação foi vital para a integração e o fortalecimento dos movimentos indígenas. “Uma vez achei no projeto Armazém Memória documentos do primeiro jornal Kaingang de Porto Alegre, feito no mimeógrafo e desenhado à mão, chamando os parentes para a luta com aquilo que tinha acesso. Se nós temos direitos hoje constituídos, isso veio de uma luta maravilhosa e muito peculiar”, relatou. “Essa articulação dos povos indígenas traz a inteligência de podermos trabalhar muito bem juntos dentro da diversidade e pluralidade.”

Ações para promover visibilidade e combater estereótipos

Existem maneiras simples e variadas pelas quais a sociedade pode contribuir para dar visibilidade e desconstruir estereótipos. Para Erisvan, além de compartilhar o trabalho de organizações, veículos e coletivos indígenas, é essencial educar as crianças para evitar a reprodução de comportamentos pejorativos. “No dia do índio, por exemplo, não pinte as crianças na sala de aula. Coloque-os para assistir um filme que conte sobre a realidade dos povos indígenas hoje, use livros que falem do enfrentamento dos direitos e defesa das marcações de terra”, recomendou.

A educação deve também promover a não violência e incentivar o conhecimento sobre outros povos. Segundo Tukano, o mais importante é respeitar e dar espaço ao protagonismo e à autonomia dos povos indígenas. “A gente tem que quebrar essa dinâmica de relacionamento abusivo em que outros se apropriam de nossa cultura e se colocam como protagonistas o tempo inteiro. Estamos justamente fazendo parte de uma geração que preza, constrói e cultiva essa autonomia de falar por nós mesmos em todos os espaços. Espalhe a mensagem: povos indígenas existem e resistem”, concluiu.

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